terça-feira, 13 de março de 2012

"Quando Vier a Primavera"

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa

2 comentários:

Baila sem peso disse...

Tem graça...ainda hoje pensava
O quão não me importava
De morrer na Primavera...
Acho que até escolhi p`ra mim
Ao morrer, gostar de um dia assim!
Que estranho este pensamento
Que me levou na brisa do caminho
E me deixou assim , de mansinho
Como ave que descansa no ninho...
E agora ao romper da noite serena
Venho encontrar a paz em conformidade
Nas palavras de um poema a verde
Como se tudo fora, no tempo sem idade
De quem pensa: o que é SER na verdade?!

a.mar disse...

Engraçado que acho que preferia o Outono. O tempo das folhas a cair, das cores de fogo esvoaçantes nas primeiras tempestades e nevoeiros a caminho do fim do ano.

- É ser na verdade!