quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

asas


"-Tu não tens penas, não podes perceber isto! - conclui o pássaro meio aborrecido. - Há coisas que só nós, os pássaros, podemos perceber, Tem a ver com sentimentos, e toda a gente sabe que os sentimentos têm asas."
de: "A Princesa-que-tinha-uma-luz-por-dentro"
Afonso de Melo

terça-feira, 27 de dezembro de 2005

o beijo do príncipe


lápis s/papel

"O beijo

Um rapaz beijou-me ontem à tarde
e o seu beijo era um vinho perfumado.
Tão longamente bebi nesses lábios o vinho do amor
que ainda agora me sinto embriagado.

anónimo, Grécia, séc. I a.C.
de 'O vinho e as rosas' - antologia de poemas sobre a embriaguês"

quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

BOAS FESTAS

Fui outra vez à procura da Terra Fértil

Fui,
mas desta vez fui acompanhada e perguntei onde havia.

E encontrei.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

o vento que me leve

vento
a voar
o vento que me leve
tão leve que eu sou para me levar
posso pedir mil vezes para o vento me levar
leva-me, leva-me, imploro-te, leva-me, imploro, leva-me a voar
leve leve leve leve leve o vento ou leve-me eu para qualquer lugar longe
eu acompanho-te vento, voo contigo uma leve força me leva porque eu sou leve a.mar


"envolvimento-ar" óleo s/ tela

terça-feira, 20 de dezembro de 2005

me envolvesse em vento

nua

como se o vento
me tocasse
em toda a minha pele
e eu me envolvesse em vento
e o vento fosse a minha roupa
e o vento me pusesse
em movimento
enrolasse-me
rolava-me,
rolava o meu corpo
com o vento
envolvia-me com ele
tocava-me em todo o corpo
o movimento do vento parecia
o passar de alguém no meu corpo
o alguém era o vento, tão envolvente
tão envolvente, envolvia-me todo o corpo
a.mar

murar de vento

podia murar de vento o lugar onde habito
era só pôr-me no centro
e
todas
as
coisas
girariam
em torno de mim
comigo no centro
o lugar onde habito é murado de vento
vento
o vento
o vento sopra
sopra
à roda
à roda de mim
o vento veio para murar o lugar onde habito
a.mar

segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Fui à serra à procura de Terra Fértil



Encontrei uma antena,

para comunicar imagem e som

Encontrei caminhos e muros









E a Terra Fértil do lado de lá dos muros.

Sem saltar os muros.
A Terra Fértil fica do lado de lá.
E eu do lado de cá.



sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

as lusinhas

quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

do livro "A chuva pasmada" de Mia Couto









Ante o frio,
faz com o coração
o contrário do que fazes com o corpo:
despe-o.
Quanto mais nu,
mais ele encontrará
o único agasalho possível
-um outro coração.
conselho do avô

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Quando o Sol está pertinho de se encontrar com o Horizonte e as Sombras se espraiam, se alongam pelas Terras como a deitar-se para descansar

O Sol, quando se vai embora para o outro lado da Terra, deita todas as D. Sombras a dormir neste lado de cima da Terra e deixa então tudo às escuras, pois as sombras deitadas cobrem toda a superfície. Alguns dias, a Lua cresce e aparece quando não está o Sol e levanta-as um bocadinho durante a noite, mas faz tanta força, que logo começa a ficar mais pequenina e desaparece.
De facto a noite é para descansar, e é para os bichinhos pequeninos e matreiros aproveitarem para se alimentarem enquanto os grandes e fortes estão a dormir.
Quando o Sol vem para o lado de cá, o lado de cima da cama Terra, logo levanta as D. Sombras todas para o seu lugar de origem, para baixo de olho dos seus progenitores.
a.mar

As portas


















A porta está fechada.
Um sorriso abre-a.
Uma palavra também
- se for uma palavra-chave.
José Jorge Letria

o limpa palavras

Limpo palavras.
Recolho-as à noite, por todo o lado:
a palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor.
Trato delas durante o dia
enquanto sonho acordado.
A palavra solidão faz-me companhia.

Quase todas as palavras
precisam de ser limpas e acariciadas:
a palavra céu, a palavra nuvem, a palavra mar.
Algumas têm mesmo que ser lavadas,
é preciso raspar-lhes a sujidade dos dias
e do mau uso.
Muitas chegam doentes,
outras simplesmente gastas, estafadas,
dobradas pelo peso das coisas
que trazem aos ombros. (...)
José Jorge Letria

palavras ditas

nelson:

o prolongamento do coração, as veias, chega a todos os cantinhos do corpo,
um beijinho pode ser os cantinhos todos à procura de te encontrarem,
aquelas rugazinhas que fazem os lábios quando dão um beijinho, não são mais que o coração todo a apertar-se muito para depois se soltar numa explosão de alegria quando se encontra outro coração amiguinho, sabias? o estalinho que dá é como o estalinho duma fechadura, dum cadeado que une os dois corações amiguinhos...
por isso é que o beijinho é dado na superfície da pele, mas sente-se no fundo do coração, as veias e as rugazinhas ligam tudo

é como esta linha, transporta estas palavras, para cá e para lá
beijinhos de cá para aí

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

domingo, 11 de dezembro de 2005

beijinhos do coração

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

esta noite

Moro nesta rua, onde chego, agora, no meio do silêncio da noite ainda no princípio,
ouço os meus passos por sentir o chão nos meus pés e não pelo som que eles fariam de encontro ao chão com o meu peso, a sola é de borracha,
as minhas calças de bombazina, essas sim, bombeiam decibéis estridentes que entram pelos ouvidos e misturam-se no ritmo cardíaco e respiratório que é acelerado, o caminho para a minha rua é a subir.
Está tudo em silêncio.
Em vez de som, o ar está cheio de cheiro das madeiras que estão a queimar nas lareiras e sugere o calor do interior das casas.
Estava tudo em silêncio, aqui fora, na minha rua, até eu mexer no meu porta-chaves, enfiar a chave na porta e ouvir os dentes a passar na fechadura e a fechadura a rodar e o trinco a ceder e a porta a abrir.
Venho de ver um espectáculo de dança contemporânea, “Memórias de um sábado com rumores de azul” da Companhia de Dança de Paulo Ribeiro. É muito bom perceber que eles, ao deslocarem-se para trabalhar em Viseu, no meio do nada, compreenderam que têm de se aproximar do público, numa atitude pedagógica, abriram o espaço deles, o palco, e acenderam as luzes da plateia e fizeram uma sala de estar com pessoas.
Comunicação, chama-se comunicação, a mensagem entendida, entre emissor receptor.
Vieram mostrar o resultado de relações humanas.
Relações humanas. Tão violentas que o meu corpo dói, não sei se é só o corpo porque ele acaba por me dar indícios que o corpo reage a uma acumulação de revoltas encerradas, emoções contidas que atrofiam o corpo que explode por não poder conter mais. E que ali em cima do palco, incitado por outros corpos, movidos por uma energia mútua.
Porque é que têm de ser tão violentas, trágicas, as relações humanas…
Eu estou só no meu caminho da minha rua até abrir a porta com a chave e entrar para o meio dos meus objectos cheios de memórias de ruídos, murmúrios, presenças e ausências. Só.
Às vezes não sei se tenho capacidade para aguentar tanta violência, fico tão machucada…
Porque aquilo são desenhos vivos que ocorrem ali à nossa frente, são representações, mas reportam-me para aquelas presentações vivas de desenhos violentos que ocorrem fora do alcance dos meus olhos, que em alguém deixam marcado o traço, a cicatriz do gesto.
Vou apagar a luz.
Deitar-me nos meus lençóis brancos com os bonequinhos sorridentes e meninas estrelinhas voadoras bordadas.
Fechar os olhos desejando dormir e sonhar com outra dimensão.
Descansar deste dia.
a.mar

terça-feira, 6 de dezembro de 2005

Margaridas















do caderninho " Não há Amores Perfeitos"



















fotografias de margaridas
canteiro do prédio
Castello, 13, Veneza

o mundo das margaridas

Em 1983, Watson e Lovelock apresentaram um modelo numérico, o Mundo das Margaridas (Daisyworld), exemplificando os mecanismos de regulação postulados pela teoria Gaia. Este modelo foi de grande importância para uma maior aceitação desta teoria pela comunidade cientifica. Ele foi construído em resposta à crítica de Dawkins (1982) de que não haveria meios de a evolução por seleção natural levar a um altruísmo em escala global. Trata-se de uma controvérsia importante, porque, para muitos, a teoria de Lovelock e Margulis é incompatível com o paradigma mais influente na história da Biologia, a teoria darwinista da evolução.
Em seu modelo, Watson e Lovelock limitaram, para fins de simplificação, o ambiente a uma única variável, a temperatura, e a biota, a dois tipos de vida, ‘margaridas’(4) brancas e pretas. Estes dois tipos de margaridas diferem em suas taxas de reflexão da radiação solar (albedo) e, assim, em sua temperatura local. O planeta tem uma superfície cinza de albedo intermediário, de modo que as margaridas pretas estão sempre mais quentes e as margaridas brancas mais frias em relação ao ambiente circundante. A taxa de crescimento de cada margarida é uma função de sua temperatura local. As margaridas não crescem abaixo de 5oC e acima de 40oC, apresentando um crescimento ótimo a 22,5oC.
O Mundo das Margaridas é um planeta hipotético parecido com a Terra, orbitando ao redor de uma estrela com a mesma massa e composição de nosso Sol, que se torna mais luminosa com o tempo. Sua atmosfera tem poucas nuvens e uma concentração baixa e constante de gases estufa, que pode ser negligenciada. Nestas condições, a temperatura média da superfície do planeta é determinada por seu albedo total (a fração de luz refletida por sua superfície) e, portanto, pela quantidade de radiação solar absorvida. Isso depende, por sua vez, da cobertura proporcional de margaridas pretas, margaridas brancas e superfície nua.
No modelo de Watson e Lovelock (1983), a temperatura planetária é regulada, com o planeta mantendo seu clima constante na presença de vida, apesar do aumento contínuo da produção de calor e luminosidade pelo Sol. Na ausência de vida, ocorre um aquecimento gradual do planeta, como esperado. As margaridas apresentam, no modelo, a capacidade de estabilizar a temperatura do planeta simplesmente através de seu desenvolvimento. No início da simulação, a temperatura do planeta se encontra no ponto de fusão da água. Sementes de margaridas são espalhadas pelo planeta, que é fértil e úmido em todos os locais. À medida que o planeta se aquece, o equador se torna em algum ponto suficientemente quente para que as margaridas cresçam. As margaridas pretas surgem primeiro, porque a temperatura do planeta ainda é baixa e elas absorvem mais luz e ficam mais quentes do que o ambiente circundante, mostrando-se mais adaptadas para a sobrevivência e reprodução naquelas condições. As margaridas brancas se encontram em desvantagem, porque refletem a luz da estrela e ficam mais frias do que a superfície. Em sua primeira fase, o Mundo das Margaridas apresenta um anel de margaridas pretas espalhadas ao redor do equador. A população de margaridas pretas cresce rapidamente, espalhando-se pela superfície e aquecendo aquela região do planeta. Com o aumento da luminosidade solar, no entanto, o crescimento das margaridas pretas é limitado no equador, em vista do declínio de sua taxa de crescimento a temperaturas acima de 22,5oC e da competição com as margaridas brancas. Eventualmente, as margaridas pretas desaparecem do equador, passando a colonizar as zonas subtropicais. Ao mesmo tempo, margaridas brancas aparecem no equador, uma vez que refletem o calor, mostrando-se mais adaptadas à sobrevivência em zonas quentes do que as margaridas pretas. Na segunda fase do planeta, há um anel de margaridas brancas ao redor do equador e as zonas subtropicais e temperadas são dominadas por margaridas pretas. As margaridas brancas gradualmente dominam o planeta e, como refletem mais luz para o espaço, resfriam sua superfície. Então, o Sol se torna muito quente e toda a vida vegetal é extinta no equador. As margaridas brancas passam a substituir as margaridas pretas nas regiões temperadas, enquanto estas últimas começam a aparecer ao redor dos pólos. Na terceira fase, o Mundo das Margaridas apresenta a superfície do planeta exposta no equador, as zonas temperadas povoadas por margaridas brancas e as regiões polares, por margaridas pretas. O modelo atinge, com o tempo, uma quarta fase na qual restam apenas margaridas brancas. Por fim, a produção de calor pela estrela se torna tão grande que supera a capacidade de regulação da biota e todas as margaridas morrem. No modelo de Watson e Lovelock, o albedo planetário está intimamente acoplado à evolução das margaridas, e a evolução das margaridas, às mudanças no clima. A propriedade crucial para a obtenção de auto-regulação no modelo é a de que as margaridas, quando absorvem ou refletem a luz, aquecem ou resfriam não apenas elas próprias, mas também o planeta. Ou seja, há um acoplamento entre as condições do planeta e os seres vivos, como postula a teoria Gaia. Se as alças de retroalimentação que conectam em duplo sentido as condições ambientais e o crescimento das margaridas forem interrompidas, de modo que não exista mais influência das margaridas sobre o ambiente, as populações flutuam enormemente e todo o sistema se torna caótico. Basta então restaurar as alças de retroalimentação e o modelo volta a estabilizar-se.
Nos últimos anos, o debate acerca do Mundo das Margaridas se tornou cada vez mais fértil, procurando-se compreender, por exemplo, as relações entre a capacidade adaptativa dos organismos e a capacidade de auto-regulação postulada pela teoria Gaia. Robertson e Robinson (1998) construíram um modelo, o ‘Mundo das Margaridas Darwiniano’(5), no qual a capacidade dos organismos de adaptarem sua fisiologia às mudanças ambientais mina sua capacidade de regular o ambiente. Lenton e Lovelock (2000) criticam o modelo de Robertson e Robinson com base em dois pressupostos assumidos por seus construtores: Primeiro, o de que não há limites para as condições ambientais às quais os organismos podem adaptar-se, de modo que as margaridas se adaptariam a qualquer temperatura, mesmo abaixo do ponto de fusão ou acima do ponto de ebulição da água; segundo, o de que as mesmas taxas de crescimento poderiam ser alcançadas sob quaisquer condições. Quando Lenton e Lovelock incorporam no modelo não apenas a capacidade dos organismos de adaptarem-se às mudanças ambientais, mas também as restrições que atuam sobre esta adaptabilidade, a capacidade de regulação do ambiente é recuperada. Desse modo, a necessidade de conciliar as vantagens e desvantagens de modificar o ambiente ou adaptar-se às condições ambientais existentes, enfrentada pelas linhagens de organismos no processo evolutivo, pode ser incorporada no modelo, sem perda da capacidade de regulação do ambiente, que é o aspecto mais essencial da teoria Gaia.(6)
http://www.if.ufrgs.br/public/ensino/vol6/n3/v6_n3_a4.htm

Da Serra da Gardunha voltada para a Serra de Estrela

As nuvens escondem o cimo da Serra, estão cinzentas, hoje.
E lá no cimo, a temperatura do ar transforma os pingos da chuva em farrapos de algodão branco.

"o Farrapeiro" Aldeia do Peso

É o Manto de Neve gelado que tapa a Serra.

Quem será o gigante que vem lamber este gelado branco?

Deve ser de leite com aroma de Baunilha, e a Terra empresta-lhe o recheio, chocolate, talvez.


Margarida: - Porque é que as laranjas são no Inverno?
Sofia: - Para a flor abrir na Primavera…
Ana Rocha: - Para crescerem, ganharem corpo no Verão…
Margarida: - Para agarrarem a chuva no Outono e darem a vitamina C contra as constipações no Inverno…
Rute: - Estas coisas da Terra…

Digo eu: As laranjas dão-nos a água enriquecida com vitaminas, no Inverno, que nos custa mais a beber água de que tanto necessitamos.

No Verão temos a melancia, que vem com muito mais água, temos mais sede.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2005




















"No Princípio" óleo s/tela
“- Menina, qual é a sua graça?
- a.mar. “