quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

asas


"-Tu não tens penas, não podes perceber isto! - conclui o pássaro meio aborrecido. - Há coisas que só nós, os pássaros, podemos perceber, Tem a ver com sentimentos, e toda a gente sabe que os sentimentos têm asas."
de: "A Princesa-que-tinha-uma-luz-por-dentro"
Afonso de Melo

terça-feira, 27 de dezembro de 2005

o beijo do príncipe


lápis s/papel

"O beijo

Um rapaz beijou-me ontem à tarde
e o seu beijo era um vinho perfumado.
Tão longamente bebi nesses lábios o vinho do amor
que ainda agora me sinto embriagado.

anónimo, Grécia, séc. I a.C.
de 'O vinho e as rosas' - antologia de poemas sobre a embriaguês"

quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

BOAS FESTAS

Fui outra vez à procura da Terra Fértil

Fui,
mas desta vez fui acompanhada e perguntei onde havia.

E encontrei.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

o vento que me leve

vento
a voar
o vento que me leve
tão leve que eu sou para me levar
posso pedir mil vezes para o vento me levar
leva-me, leva-me, imploro-te, leva-me, imploro, leva-me a voar
leve leve leve leve leve o vento ou leve-me eu para qualquer lugar longe
eu acompanho-te vento, voo contigo uma leve força me leva porque eu sou leve a.mar


"envolvimento-ar" óleo s/ tela

terça-feira, 20 de dezembro de 2005

me envolvesse em vento

nua

como se o vento
me tocasse
em toda a minha pele
e eu me envolvesse em vento
e o vento fosse a minha roupa
e o vento me pusesse
em movimento
enrolasse-me
rolava-me,
rolava o meu corpo
com o vento
envolvia-me com ele
tocava-me em todo o corpo
o movimento do vento parecia
o passar de alguém no meu corpo
o alguém era o vento, tão envolvente
tão envolvente, envolvia-me todo o corpo
a.mar

murar de vento

podia murar de vento o lugar onde habito
era só pôr-me no centro
e
todas
as
coisas
girariam
em torno de mim
comigo no centro
o lugar onde habito é murado de vento
vento
o vento
o vento sopra
sopra
à roda
à roda de mim
o vento veio para murar o lugar onde habito
a.mar

segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Fui à serra à procura de Terra Fértil



Encontrei uma antena,

para comunicar imagem e som

Encontrei caminhos e muros









E a Terra Fértil do lado de lá dos muros.

Sem saltar os muros.
A Terra Fértil fica do lado de lá.
E eu do lado de cá.



sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

as lusinhas

quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

do livro "A chuva pasmada" de Mia Couto









Ante o frio,
faz com o coração
o contrário do que fazes com o corpo:
despe-o.
Quanto mais nu,
mais ele encontrará
o único agasalho possível
-um outro coração.
conselho do avô

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Quando o Sol está pertinho de se encontrar com o Horizonte e as Sombras se espraiam, se alongam pelas Terras como a deitar-se para descansar

O Sol, quando se vai embora para o outro lado da Terra, deita todas as D. Sombras a dormir neste lado de cima da Terra e deixa então tudo às escuras, pois as sombras deitadas cobrem toda a superfície. Alguns dias, a Lua cresce e aparece quando não está o Sol e levanta-as um bocadinho durante a noite, mas faz tanta força, que logo começa a ficar mais pequenina e desaparece.
De facto a noite é para descansar, e é para os bichinhos pequeninos e matreiros aproveitarem para se alimentarem enquanto os grandes e fortes estão a dormir.
Quando o Sol vem para o lado de cá, o lado de cima da cama Terra, logo levanta as D. Sombras todas para o seu lugar de origem, para baixo de olho dos seus progenitores.
a.mar

As portas


















A porta está fechada.
Um sorriso abre-a.
Uma palavra também
- se for uma palavra-chave.
José Jorge Letria

o limpa palavras

Limpo palavras.
Recolho-as à noite, por todo o lado:
a palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor.
Trato delas durante o dia
enquanto sonho acordado.
A palavra solidão faz-me companhia.

Quase todas as palavras
precisam de ser limpas e acariciadas:
a palavra céu, a palavra nuvem, a palavra mar.
Algumas têm mesmo que ser lavadas,
é preciso raspar-lhes a sujidade dos dias
e do mau uso.
Muitas chegam doentes,
outras simplesmente gastas, estafadas,
dobradas pelo peso das coisas
que trazem aos ombros. (...)
José Jorge Letria

palavras ditas

nelson:

o prolongamento do coração, as veias, chega a todos os cantinhos do corpo,
um beijinho pode ser os cantinhos todos à procura de te encontrarem,
aquelas rugazinhas que fazem os lábios quando dão um beijinho, não são mais que o coração todo a apertar-se muito para depois se soltar numa explosão de alegria quando se encontra outro coração amiguinho, sabias? o estalinho que dá é como o estalinho duma fechadura, dum cadeado que une os dois corações amiguinhos...
por isso é que o beijinho é dado na superfície da pele, mas sente-se no fundo do coração, as veias e as rugazinhas ligam tudo

é como esta linha, transporta estas palavras, para cá e para lá
beijinhos de cá para aí

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

domingo, 11 de dezembro de 2005

beijinhos do coração

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

esta noite

Moro nesta rua, onde chego, agora, no meio do silêncio da noite ainda no princípio,
ouço os meus passos por sentir o chão nos meus pés e não pelo som que eles fariam de encontro ao chão com o meu peso, a sola é de borracha,
as minhas calças de bombazina, essas sim, bombeiam decibéis estridentes que entram pelos ouvidos e misturam-se no ritmo cardíaco e respiratório que é acelerado, o caminho para a minha rua é a subir.
Está tudo em silêncio.
Em vez de som, o ar está cheio de cheiro das madeiras que estão a queimar nas lareiras e sugere o calor do interior das casas.
Estava tudo em silêncio, aqui fora, na minha rua, até eu mexer no meu porta-chaves, enfiar a chave na porta e ouvir os dentes a passar na fechadura e a fechadura a rodar e o trinco a ceder e a porta a abrir.
Venho de ver um espectáculo de dança contemporânea, “Memórias de um sábado com rumores de azul” da Companhia de Dança de Paulo Ribeiro. É muito bom perceber que eles, ao deslocarem-se para trabalhar em Viseu, no meio do nada, compreenderam que têm de se aproximar do público, numa atitude pedagógica, abriram o espaço deles, o palco, e acenderam as luzes da plateia e fizeram uma sala de estar com pessoas.
Comunicação, chama-se comunicação, a mensagem entendida, entre emissor receptor.
Vieram mostrar o resultado de relações humanas.
Relações humanas. Tão violentas que o meu corpo dói, não sei se é só o corpo porque ele acaba por me dar indícios que o corpo reage a uma acumulação de revoltas encerradas, emoções contidas que atrofiam o corpo que explode por não poder conter mais. E que ali em cima do palco, incitado por outros corpos, movidos por uma energia mútua.
Porque é que têm de ser tão violentas, trágicas, as relações humanas…
Eu estou só no meu caminho da minha rua até abrir a porta com a chave e entrar para o meio dos meus objectos cheios de memórias de ruídos, murmúrios, presenças e ausências. Só.
Às vezes não sei se tenho capacidade para aguentar tanta violência, fico tão machucada…
Porque aquilo são desenhos vivos que ocorrem ali à nossa frente, são representações, mas reportam-me para aquelas presentações vivas de desenhos violentos que ocorrem fora do alcance dos meus olhos, que em alguém deixam marcado o traço, a cicatriz do gesto.
Vou apagar a luz.
Deitar-me nos meus lençóis brancos com os bonequinhos sorridentes e meninas estrelinhas voadoras bordadas.
Fechar os olhos desejando dormir e sonhar com outra dimensão.
Descansar deste dia.
a.mar

terça-feira, 6 de dezembro de 2005

Margaridas















do caderninho " Não há Amores Perfeitos"



















fotografias de margaridas
canteiro do prédio
Castello, 13, Veneza

o mundo das margaridas

Em 1983, Watson e Lovelock apresentaram um modelo numérico, o Mundo das Margaridas (Daisyworld), exemplificando os mecanismos de regulação postulados pela teoria Gaia. Este modelo foi de grande importância para uma maior aceitação desta teoria pela comunidade cientifica. Ele foi construído em resposta à crítica de Dawkins (1982) de que não haveria meios de a evolução por seleção natural levar a um altruísmo em escala global. Trata-se de uma controvérsia importante, porque, para muitos, a teoria de Lovelock e Margulis é incompatível com o paradigma mais influente na história da Biologia, a teoria darwinista da evolução.
Em seu modelo, Watson e Lovelock limitaram, para fins de simplificação, o ambiente a uma única variável, a temperatura, e a biota, a dois tipos de vida, ‘margaridas’(4) brancas e pretas. Estes dois tipos de margaridas diferem em suas taxas de reflexão da radiação solar (albedo) e, assim, em sua temperatura local. O planeta tem uma superfície cinza de albedo intermediário, de modo que as margaridas pretas estão sempre mais quentes e as margaridas brancas mais frias em relação ao ambiente circundante. A taxa de crescimento de cada margarida é uma função de sua temperatura local. As margaridas não crescem abaixo de 5oC e acima de 40oC, apresentando um crescimento ótimo a 22,5oC.
O Mundo das Margaridas é um planeta hipotético parecido com a Terra, orbitando ao redor de uma estrela com a mesma massa e composição de nosso Sol, que se torna mais luminosa com o tempo. Sua atmosfera tem poucas nuvens e uma concentração baixa e constante de gases estufa, que pode ser negligenciada. Nestas condições, a temperatura média da superfície do planeta é determinada por seu albedo total (a fração de luz refletida por sua superfície) e, portanto, pela quantidade de radiação solar absorvida. Isso depende, por sua vez, da cobertura proporcional de margaridas pretas, margaridas brancas e superfície nua.
No modelo de Watson e Lovelock (1983), a temperatura planetária é regulada, com o planeta mantendo seu clima constante na presença de vida, apesar do aumento contínuo da produção de calor e luminosidade pelo Sol. Na ausência de vida, ocorre um aquecimento gradual do planeta, como esperado. As margaridas apresentam, no modelo, a capacidade de estabilizar a temperatura do planeta simplesmente através de seu desenvolvimento. No início da simulação, a temperatura do planeta se encontra no ponto de fusão da água. Sementes de margaridas são espalhadas pelo planeta, que é fértil e úmido em todos os locais. À medida que o planeta se aquece, o equador se torna em algum ponto suficientemente quente para que as margaridas cresçam. As margaridas pretas surgem primeiro, porque a temperatura do planeta ainda é baixa e elas absorvem mais luz e ficam mais quentes do que o ambiente circundante, mostrando-se mais adaptadas para a sobrevivência e reprodução naquelas condições. As margaridas brancas se encontram em desvantagem, porque refletem a luz da estrela e ficam mais frias do que a superfície. Em sua primeira fase, o Mundo das Margaridas apresenta um anel de margaridas pretas espalhadas ao redor do equador. A população de margaridas pretas cresce rapidamente, espalhando-se pela superfície e aquecendo aquela região do planeta. Com o aumento da luminosidade solar, no entanto, o crescimento das margaridas pretas é limitado no equador, em vista do declínio de sua taxa de crescimento a temperaturas acima de 22,5oC e da competição com as margaridas brancas. Eventualmente, as margaridas pretas desaparecem do equador, passando a colonizar as zonas subtropicais. Ao mesmo tempo, margaridas brancas aparecem no equador, uma vez que refletem o calor, mostrando-se mais adaptadas à sobrevivência em zonas quentes do que as margaridas pretas. Na segunda fase do planeta, há um anel de margaridas brancas ao redor do equador e as zonas subtropicais e temperadas são dominadas por margaridas pretas. As margaridas brancas gradualmente dominam o planeta e, como refletem mais luz para o espaço, resfriam sua superfície. Então, o Sol se torna muito quente e toda a vida vegetal é extinta no equador. As margaridas brancas passam a substituir as margaridas pretas nas regiões temperadas, enquanto estas últimas começam a aparecer ao redor dos pólos. Na terceira fase, o Mundo das Margaridas apresenta a superfície do planeta exposta no equador, as zonas temperadas povoadas por margaridas brancas e as regiões polares, por margaridas pretas. O modelo atinge, com o tempo, uma quarta fase na qual restam apenas margaridas brancas. Por fim, a produção de calor pela estrela se torna tão grande que supera a capacidade de regulação da biota e todas as margaridas morrem. No modelo de Watson e Lovelock, o albedo planetário está intimamente acoplado à evolução das margaridas, e a evolução das margaridas, às mudanças no clima. A propriedade crucial para a obtenção de auto-regulação no modelo é a de que as margaridas, quando absorvem ou refletem a luz, aquecem ou resfriam não apenas elas próprias, mas também o planeta. Ou seja, há um acoplamento entre as condições do planeta e os seres vivos, como postula a teoria Gaia. Se as alças de retroalimentação que conectam em duplo sentido as condições ambientais e o crescimento das margaridas forem interrompidas, de modo que não exista mais influência das margaridas sobre o ambiente, as populações flutuam enormemente e todo o sistema se torna caótico. Basta então restaurar as alças de retroalimentação e o modelo volta a estabilizar-se.
Nos últimos anos, o debate acerca do Mundo das Margaridas se tornou cada vez mais fértil, procurando-se compreender, por exemplo, as relações entre a capacidade adaptativa dos organismos e a capacidade de auto-regulação postulada pela teoria Gaia. Robertson e Robinson (1998) construíram um modelo, o ‘Mundo das Margaridas Darwiniano’(5), no qual a capacidade dos organismos de adaptarem sua fisiologia às mudanças ambientais mina sua capacidade de regular o ambiente. Lenton e Lovelock (2000) criticam o modelo de Robertson e Robinson com base em dois pressupostos assumidos por seus construtores: Primeiro, o de que não há limites para as condições ambientais às quais os organismos podem adaptar-se, de modo que as margaridas se adaptariam a qualquer temperatura, mesmo abaixo do ponto de fusão ou acima do ponto de ebulição da água; segundo, o de que as mesmas taxas de crescimento poderiam ser alcançadas sob quaisquer condições. Quando Lenton e Lovelock incorporam no modelo não apenas a capacidade dos organismos de adaptarem-se às mudanças ambientais, mas também as restrições que atuam sobre esta adaptabilidade, a capacidade de regulação do ambiente é recuperada. Desse modo, a necessidade de conciliar as vantagens e desvantagens de modificar o ambiente ou adaptar-se às condições ambientais existentes, enfrentada pelas linhagens de organismos no processo evolutivo, pode ser incorporada no modelo, sem perda da capacidade de regulação do ambiente, que é o aspecto mais essencial da teoria Gaia.(6)
http://www.if.ufrgs.br/public/ensino/vol6/n3/v6_n3_a4.htm

Da Serra da Gardunha voltada para a Serra de Estrela

As nuvens escondem o cimo da Serra, estão cinzentas, hoje.
E lá no cimo, a temperatura do ar transforma os pingos da chuva em farrapos de algodão branco.

"o Farrapeiro" Aldeia do Peso

É o Manto de Neve gelado que tapa a Serra.

Quem será o gigante que vem lamber este gelado branco?

Deve ser de leite com aroma de Baunilha, e a Terra empresta-lhe o recheio, chocolate, talvez.


Margarida: - Porque é que as laranjas são no Inverno?
Sofia: - Para a flor abrir na Primavera…
Ana Rocha: - Para crescerem, ganharem corpo no Verão…
Margarida: - Para agarrarem a chuva no Outono e darem a vitamina C contra as constipações no Inverno…
Rute: - Estas coisas da Terra…

Digo eu: As laranjas dão-nos a água enriquecida com vitaminas, no Inverno, que nos custa mais a beber água de que tanto necessitamos.

No Verão temos a melancia, que vem com muito mais água, temos mais sede.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2005




















"No Princípio" óleo s/tela
“- Menina, qual é a sua graça?
- a.mar. “

quarta-feira, 30 de novembro de 2005

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
Estrelas incertas, que as águas dormentes
Do mar vão ferir;
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Têm meiga expressão,
Mais doce que a brisa, — mais doce que o nauta
De noite cantando, — mais doce que a frauta
Quebrando a solidão,
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
São meigos infantes, gentis, engraçados
Brincando a sorrir.
São meigos infantes, brincando, saltando
Em jogo infantil,
Inquietos, travessos; — causando tormento,
Com beijos nos pagam a dor de um momento,
Com modo gentil.
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Às vezes luzindo, serenos, tranquilos,
Às vezes vulcão!
Às vezes, oh! sim, derramam tão fraco,
Tão frouxo brilhar,
Que a mim me parece que o ar lhes falece,
E os olhos tão meigos, que o pranto humedece
Me fazem chorar.
Assim lindo infante, que dorme tranquilo,
Desperta a chorar;
E mudo e sisudo, cismando mil coisas,
Não pensa — a pensar.
Nas almas tão puras da virgem, do infante,
Às vezes do céu
Cai doce harmonia duma
Harpa celeste,
Um vago desejo; e a mente se veste
De pranto co'um véu.
Quer sejam saudades, quer sejam desejos
Da pátria melhor;
Eu amo seus olhos que choram em causa
Um pranto sem dor.
Eu amo seus olhos tão negros, tão puros,
De vivo fulgor;
Seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
Que falam de amores com tanta poesia,
Com tanto pudor.
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Eu amo esses olhos que falam de amores
Com tanta paixão.
Gonçalves Dias

terça-feira, 29 de novembro de 2005

Envolvida no meu coração













da série "o manto" óleo s/tela 90x70

envolvida no coração
cobri o meu ser de vermelho
cor de vitaminas
e cor de ferro ferrugento pelo tempo de exposição
ao tempo.
em convívio com o mundo
sempre com o coração na pele.
é o meu mundo, eu sei, é aquele que eu vivi, somente,
conheço-o, o meu coração é a minha lupa.
só o conheço assim.
Tomara que não seja diferente, o mundo,
diferente do mundo que eu vejo
com a lente do meu coração.
Tomara . a.mar

domingo, 27 de novembro de 2005

o meu amiguinho Hugo


O Hugo estava com o amigo Marco a fazer um pique-nique em Veneza, em frente à Pousada da Juventude na Giudecca, em Veneza, ao pôr do Sol que eu estava a saborear. De repente comecei a ouvir português... e aquele banquete à beira da água já me tinha parecido familiar, talvez pela disposição das pessoas e dos objectos (que incluiam o tachinho).
Eram os primeiros portugueses que eu encontrei na minha viagem no Verão à Europa.
Veneza era o destino final.
No outro dia, passei o meu ultimo dia em Veneza com os portugueses e um argentino, o Mario que eles já conheciam de outra cidade italiana e que reencontraram ali.
Encontrámos uma feira de velharias, um restaurante onde se comia um bom prato de Massa por seis euros, uma coisa absolutamente rara em Veneza. Visitamos uma instalação muito bonita numa igreja da Pipilotti (representação da Suiça na Bienal de Veneza), As imagens eram projectadas no tecto da igreja e nós tinhamos umas caminhas para nos deitarmos comodamente a saborear as imagens e o fresquinho.
Depois, por sujestão do Marco fomos à praia do Lido, a praia de Veneza, (dantes era paga). Descobrimos um bar muito fixe à beira-mar com sofás e tudoi e com um som muito porreiro e uma cervejinha fresca deliciosa.
A melhor despedida de Veneza, com um jantarzinho à beira de água novamente à frente da Pousada. Eu desta vez consegui um quarto com vista para a cidade por 18.50€
Do melhor...
Beijinhos Hugo, Marco e Mario

O meu amiguinho Hugo lembrou-me Veneza, hoje




Veneza, Itália
Carnaval 1998

sexta-feira, 25 de novembro de 2005

uma hora e meia à espera que os senhores arranjassem o ar condicionado

vens por uma causa qualquer
sem saber
encontro-te no meu caminho e tu estás-me a ver
vens de lá de mim, venho de cá para ti num mesmo caminho a percorrer
estava marcado o nosso encontro, homem mulher,
noutra altura não podia ser
para estarmos frente a frente, duma maneira qualquer
sem saber
cá estávamos nós, à hora, sem minuto a perder
é assim quando se segue um caminho sem saber
porque se percorre, naquela data, para a gente se ver
era o dia, era a hora, era o mesmo minuto, tudo a condizer
o lugar, o passo em frente, o meu corpo, os meus olhos para te ver,
tu no meu caminho, à minha frente, com os teus olhos a recolher
o meu olhar, a reconhecer
que o acaso veio connosco, os nossos passos, por entender
que estávamos sintonizados nos passos e no tempo, a correr
ao mesmo tempo, simultâneo o nosso prazer
de nos encontrar-mos por acaso, ao mesmo tempo compreender
eu e entenderes tu que nos devíamos levar por ser
o meu caminho e o teu caminho os mesmos, por assim dizer,
um encontro de mim contigo a acontecer
um encontro a ocorrer

eu e tu encontrámo-nos…

e eu, com tanta coincidência, ao mesmo tempo a acontecer
nem me lembrei de te dizer

- Olá! Estou aqui! Sou eu!

e tu passaste
não me viste no teu caminho como sendo para te encontrares comigo, sem eu te dizer
como poderias saber
ao meu lado, no passeio largo, no mesmo caminho de encontro ao teu, passavam vinte e duas pessoas
outras sem saber

- Arranca e pára dois ou três minutos depois, não estou a perceber

branco era o fundo dos teus olhos
onde flutuava o olhar azul que eu tinha
o prazer de ver a sorrir para mim

era tão doce…

tão circular, sem bico nenhum para me agarrar, sem buracos para eu cair.
só um, no meio do circulo, por onde podemos entrar para o teu interior se abrires o olhar,
por onde entram a luz das imagens que tu recolhes para dentro de ti.
estou aqui agora e já estou lá dentro do teu pensamento, assim que eu entrei registei-me logo no teu interior para me tornar tua cidadã, defender a minha pátria e lutar pelo meu país:
os teus olhos azuis a flutuar no branco.

- Vai buscar a bilha do gás. E traz os manómetros.

Porque é que será que ainda não chegaste, meu príncipe?
Porque é que será que ainda não te encontrei? Já estou há tanto tempo à tua espera, já fui por esses caminhos fora à tua procura, já me expus por aí para ver se me vias, e até já fui até bem longe.
Terei que ir mais longe e concentrar-me mais, com certeza estás por aí, algures e sabes que estou por aqui, algures, para me encontrares
Ou mantenho-me quieta, num lugar certo, o mais tempo possível para que tu num caminho teu encontres o meu lugar.
Há tanto tempo,
quantas letras e palavras a divagar.

- Já arrancou.

Eu abro a porta,
Espera que eu abro a porta,
abro já a porta do meu coração para tu entrares quando quiseres
e saíres se tiveres vontade. não te quero prender, assim não me interessa,
gosto que sejas livre de escolher quando queres entrar e sair
a porta está aberta
com certeza, porém, que dentro do meu coração terás o calor do meu amor
para te aquecer e bem receber o teu bem me querer
que eu sei que transportas no teu ser.

- Já parou outra vez… a máquina hoje não quer…

Olha para mim! Olha!!!
Encontra o meu olhar com o teu, estou-te a pedir,
verás o fundo do meu coração,
estou-te a dizer com o meu olhar, Olha!!!
a procurar que te encontres comigo aqui, neste momento, neste lugar
onde os meus olhos têm a oportunidade de encontrar os teus.


UM PASSO. UM PASSINHO
NUM QUADRADO, NUM OUTRO QUADRADINHO.
DO CHÃO EM QUE O TEU PÉZINHO
SALTA, NO JOGO, DO PÉ COXINHO

- Não consigo entender o que se passa…
- serão os cabos trocados?...

Era uma fotocopiadora
Acho que tinha umas três mil cópias para fazer e a última tinha que sair igualzinha à primeira e igualzinha ao original.
Devem pensar que sou uma máquina infernal…
Tanto trabalho… já estou mesmo a ver o que vai ser no final
Esta está boa, esta não, …
Repete-se
E depois três mil já são três mil e quinhentas,
É que a quantidade de tinta que tenho ao princípio não tem nada a ver com a que tenho no fim, e as minhas roldanas e passadeiras ao fim, quentes, não são como no princípio, frias e se o movimento mais treinado a partir do meio assegurasse a melhor qualidade, mas não, mais quente mais rápido mais aldrabado
Depressa e bem não há quem
Nem uma fotocopiadora
Carregam no botão de fazer coisas impossíveis a pensar que por ser máquina lhes resolvo o problema de quererem fazer três mil cópias iguaizinhas dum original especial e querem que as copiazinhas sejam especiais também,
Milagres, querem milagres!
Ponham o santo a multiplicar originais,
não me ponham a mim que me esgotam!!!

- o homem a olhar para a máquina à espera que ela tenha aceitado a manutenção dele,
Aceitou? Não aceitou?


Entretanto
Já o Sol se deitou e está a puxar o manto da noite para se tapar
É daqueles eléctricos, com ledezinhos e tudo
Está com um bocadinho de pó, hoje, o cobertor do Sol,
Levantou umas nuvens que tapam os ledezinhos,
estrelinhas, como lhes chamam os poetas das histórias infantis
não é por falta de uso ou falta de limpeza na casa do Sol,
é por há bichos carpinteiros nas madeiras que seguram as folhas
que produzem o oxigénio para eu e tu e os outros animais respirarmos,
e acho que também as toupeiras e os castores a trabalhar as suas casas também levantam pó.

- espreita lá, vê lá se está bom…
- parou…

Há no Céu e nas Nuvens
qualquer coisa que as árvores e os pássaros conseguem alcançar que eu não consigo
mas que não deixo de desejar
qualquer coisa que o meu ser não consegue entender nem explicar
mas que aos pássaros entendo não perguntar
nem às árvores
podes ser árvore ou podes ser pássaro para me contares o que eles têm que eu não consigo ter?

- a gente experimenta…

- não. Não é do gás, não é dos cabos… vimos cá para a semana.
- Bom fim de semana!


a.mar

Para o meu Amor
















porta principal Estalagem S.Domingos
Mértola

Para o meu Amor:
Hoje estou que não caibo dentro de mim.
Pintava uma ponte, cor de laranja,
incandescente,
Era como uma estrela cadente,
ía aí ter contigo,
envolvia-te num abraço!
Ninguém nos via,
éramos um fenómeno da Natureza.
Hoje estou assim,
não sei como dar corpo
a uma coisa que não tem tamanho!
a.mar

o meu amiguinho Nelson trouxe-me as escadas que chegam há Lua, fui lá relembrar bons momentos

Mina de S. Domingos, 2004

Levantei-me antes do Sol e fui para o pé do espelho de água da barragem.
Os bandos de pássaros começaram a lenvantar vôo dos ninhos nas árvores grandes em direcção aos campos do alimento.
Os pássaros e, entretanto, também o Sol, com o movimento de se levantarem, levantaram uma aragem que levantou uma ondulação no espelho de água.
E o ritmo da aragem a levantar a água, das ondulações a bater na parede da barragem, era o mesmo ritmo do coração a levantar as paredes e a estender o sangue pelas paredes das minhas veias,
tum tum tum tum tum tum
e dos olhos levantaram-se lágrimas que encheram de água as paredes da minha cara, porque o coração ao levantar-se em sintonia com as ondas da aragem do amanhecer do universo ali, empurrou as lágrimas para fora de dentro de mim,
a.mar

- o pingo -

o pingo

começou a escorregar

caiu

no vidro da janela

rastejou

encontrou a madeira

curvou-a

continuou no vidro

parou de encontro a outro

e os dois

juntos

chegaram

mais depressa

ao fim

a.mar

quinta-feira, 24 de novembro de 2005

- Matsuo Basho -

Ao sol da manhã
uma gota de orvalho
precioso diamante.

as emoções moldam

a emoção é a escultora do nosso corpo?
o nosso corpo é uma escultura de emoções?
observando os corpos parece que sim. parece que está lá moldado

Por ruas

As ruas desta aldeia
parecem os caminhos que os pastores fazem
com os seus rebanhos
pela subida e pela descida da Serra.
Seguem as ruas a curvar
contornando as casas,
como seguem os caminhos a curvar
contornando as pedras maiores e as árvores.
Aqui o que há mais são casas brancas,
na Serra, são oliveiras e calcário.