quinta-feira, 22 de janeiro de 2009


ás vezes, eu quero mudar, transformar-me.
quando ouço o que dizem de mim, sinto que podia ser mais qualquer coisa.
ando aqui nos meus afazeres e dizem-me vezes sem conta:

que sou um anjo;
que quem tem uma Margarida tem tudo;
que tenho umas teorias engraçadas;
que gostam muito de mim;
que eu sou uma flor;
que eu devia pintar, gostam muito da minha pintura;
porque é que eu não faço exposições;
porque é que eu não vou trabalhar nas massagens, visto que tenho umas mãos milagrosas;
o que é que eu ando a fazer a pintar as paredes das casas, visto que é um trabalho tão duro, não é para uma pessoa sensível como eu, o dom de ser artista é muito raro e eu desperdíço-o.

eu faço tudo,
tudo com o mesmo empenho.
quando estou nas pinturas de paredes, aquilo é como uma pintura de grandes dimensões. descubro uma disciplina, um procura pela perfeição. estudo cores. mas é doloroso, ás vezes. física e psicologicamente.
quando estou com as telas e com as tintas, vejo expressas as minhas emoções, vejo desenhadas as formas e cores que estudo nas paredes e nas fotografias e na Natureza que tanto admiro.
quando estou a massajar uma pessoa ponho o meu Coração a bater no centro das minhas mãos e ponho-os a dançar.
gosto quando sou de todos e estou disponível para ajudar os outros.
e por outro lado, fico tão ocupada dos outros que a minha vida própria perde-se e eu que podia ser tanta coisa.
esta transformação de mim, a consciência mais consciente dessa transformação,
começou quando senti o meu Coração a bater ao mesmo tempo que as ondas da água batiam na barragem, no ritmo provocado pela brisa do nascer do dia em Minas de S.Domingos Alentejo.
e depois a sensação de que este é o lugar onde quero estar agora que senti quando tive o primeiro contacto com a Tui Na.

não sei quando é que estou pronta para me deixar cair do ramo familiar que me pôs em flor,
é tão bonito, é tão bom ser flor;
ou se calhar ainda estou em botão fechado, a flor ainda está muito interior.
tem tudo para abrir, mas ainda não chegou a Primavera.
porque eu não tenho raiva e penso que a quantidade de orgulho que tenho é saudável, se calhar devia ser mais,
porque me recuso a lutar. luta significa violência, para mim, ir contra alguma coisa.
porque eu prefiro ficar em silêncio a discutir e argumentar contra,
alimentamo-nos absorvendo e incorporando os alimentos.
assim alimento o meu pensamento, vendo a coisa e querendo ver o que está por trás dela e não querendo impor-me a essa coisa.
sei que isto demora muito tempo, o necessário. eu para chegar a este tamanho, já engoli muitos alimentos, trinta e cinco anos, todos os dias, várias vezes por dia.

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