sexta-feira, 25 de novembro de 2005

uma hora e meia à espera que os senhores arranjassem o ar condicionado

vens por uma causa qualquer
sem saber
encontro-te no meu caminho e tu estás-me a ver
vens de lá de mim, venho de cá para ti num mesmo caminho a percorrer
estava marcado o nosso encontro, homem mulher,
noutra altura não podia ser
para estarmos frente a frente, duma maneira qualquer
sem saber
cá estávamos nós, à hora, sem minuto a perder
é assim quando se segue um caminho sem saber
porque se percorre, naquela data, para a gente se ver
era o dia, era a hora, era o mesmo minuto, tudo a condizer
o lugar, o passo em frente, o meu corpo, os meus olhos para te ver,
tu no meu caminho, à minha frente, com os teus olhos a recolher
o meu olhar, a reconhecer
que o acaso veio connosco, os nossos passos, por entender
que estávamos sintonizados nos passos e no tempo, a correr
ao mesmo tempo, simultâneo o nosso prazer
de nos encontrar-mos por acaso, ao mesmo tempo compreender
eu e entenderes tu que nos devíamos levar por ser
o meu caminho e o teu caminho os mesmos, por assim dizer,
um encontro de mim contigo a acontecer
um encontro a ocorrer

eu e tu encontrámo-nos…

e eu, com tanta coincidência, ao mesmo tempo a acontecer
nem me lembrei de te dizer

- Olá! Estou aqui! Sou eu!

e tu passaste
não me viste no teu caminho como sendo para te encontrares comigo, sem eu te dizer
como poderias saber
ao meu lado, no passeio largo, no mesmo caminho de encontro ao teu, passavam vinte e duas pessoas
outras sem saber

- Arranca e pára dois ou três minutos depois, não estou a perceber

branco era o fundo dos teus olhos
onde flutuava o olhar azul que eu tinha
o prazer de ver a sorrir para mim

era tão doce…

tão circular, sem bico nenhum para me agarrar, sem buracos para eu cair.
só um, no meio do circulo, por onde podemos entrar para o teu interior se abrires o olhar,
por onde entram a luz das imagens que tu recolhes para dentro de ti.
estou aqui agora e já estou lá dentro do teu pensamento, assim que eu entrei registei-me logo no teu interior para me tornar tua cidadã, defender a minha pátria e lutar pelo meu país:
os teus olhos azuis a flutuar no branco.

- Vai buscar a bilha do gás. E traz os manómetros.

Porque é que será que ainda não chegaste, meu príncipe?
Porque é que será que ainda não te encontrei? Já estou há tanto tempo à tua espera, já fui por esses caminhos fora à tua procura, já me expus por aí para ver se me vias, e até já fui até bem longe.
Terei que ir mais longe e concentrar-me mais, com certeza estás por aí, algures e sabes que estou por aqui, algures, para me encontrares
Ou mantenho-me quieta, num lugar certo, o mais tempo possível para que tu num caminho teu encontres o meu lugar.
Há tanto tempo,
quantas letras e palavras a divagar.

- Já arrancou.

Eu abro a porta,
Espera que eu abro a porta,
abro já a porta do meu coração para tu entrares quando quiseres
e saíres se tiveres vontade. não te quero prender, assim não me interessa,
gosto que sejas livre de escolher quando queres entrar e sair
a porta está aberta
com certeza, porém, que dentro do meu coração terás o calor do meu amor
para te aquecer e bem receber o teu bem me querer
que eu sei que transportas no teu ser.

- Já parou outra vez… a máquina hoje não quer…

Olha para mim! Olha!!!
Encontra o meu olhar com o teu, estou-te a pedir,
verás o fundo do meu coração,
estou-te a dizer com o meu olhar, Olha!!!
a procurar que te encontres comigo aqui, neste momento, neste lugar
onde os meus olhos têm a oportunidade de encontrar os teus.


UM PASSO. UM PASSINHO
NUM QUADRADO, NUM OUTRO QUADRADINHO.
DO CHÃO EM QUE O TEU PÉZINHO
SALTA, NO JOGO, DO PÉ COXINHO

- Não consigo entender o que se passa…
- serão os cabos trocados?...

Era uma fotocopiadora
Acho que tinha umas três mil cópias para fazer e a última tinha que sair igualzinha à primeira e igualzinha ao original.
Devem pensar que sou uma máquina infernal…
Tanto trabalho… já estou mesmo a ver o que vai ser no final
Esta está boa, esta não, …
Repete-se
E depois três mil já são três mil e quinhentas,
É que a quantidade de tinta que tenho ao princípio não tem nada a ver com a que tenho no fim, e as minhas roldanas e passadeiras ao fim, quentes, não são como no princípio, frias e se o movimento mais treinado a partir do meio assegurasse a melhor qualidade, mas não, mais quente mais rápido mais aldrabado
Depressa e bem não há quem
Nem uma fotocopiadora
Carregam no botão de fazer coisas impossíveis a pensar que por ser máquina lhes resolvo o problema de quererem fazer três mil cópias iguaizinhas dum original especial e querem que as copiazinhas sejam especiais também,
Milagres, querem milagres!
Ponham o santo a multiplicar originais,
não me ponham a mim que me esgotam!!!

- o homem a olhar para a máquina à espera que ela tenha aceitado a manutenção dele,
Aceitou? Não aceitou?


Entretanto
Já o Sol se deitou e está a puxar o manto da noite para se tapar
É daqueles eléctricos, com ledezinhos e tudo
Está com um bocadinho de pó, hoje, o cobertor do Sol,
Levantou umas nuvens que tapam os ledezinhos,
estrelinhas, como lhes chamam os poetas das histórias infantis
não é por falta de uso ou falta de limpeza na casa do Sol,
é por há bichos carpinteiros nas madeiras que seguram as folhas
que produzem o oxigénio para eu e tu e os outros animais respirarmos,
e acho que também as toupeiras e os castores a trabalhar as suas casas também levantam pó.

- espreita lá, vê lá se está bom…
- parou…

Há no Céu e nas Nuvens
qualquer coisa que as árvores e os pássaros conseguem alcançar que eu não consigo
mas que não deixo de desejar
qualquer coisa que o meu ser não consegue entender nem explicar
mas que aos pássaros entendo não perguntar
nem às árvores
podes ser árvore ou podes ser pássaro para me contares o que eles têm que eu não consigo ter?

- a gente experimenta…

- não. Não é do gás, não é dos cabos… vimos cá para a semana.
- Bom fim de semana!


a.mar