"Estou a ver os números, mas ao mesmo tempo não os estou a ver. É estranho.
Estou a ver figuras, formas, padrões. Como se fosse um quadrado ou uma textura ou gotas de água ou ondulações. Como algo a ser reflectido. É qualquer coisa que podemos ver através dela, quase metálica como uma bolha algo meio embaciada. Um pouco como um clarão.
Os números sempre foram para mim algo de real.
desde os cinco anos que sempre vi através dos números. Eles são as minhas lentes. São a forma como vejo o mundo à minha volta.
Olho para qualquer coisa e digo: aquilo parece um cento e trinta e um, por exemplo. E aquilo parece um cinquenta e dois.
E penso sempre que é assim. Que toda a gente lida com os números. Que é normal.
Considero os números como meus amigos.
Eu conheço os números duma forma visual, utilizando cores, texturas, formas e feitios.
Sequências de números formam paisagens na minha mente. Simplesmente acontece.
O número Um, por exemplo, será um número muito brilhante. É quase como se algu´m apontasse uma lanterna para o meu rosto. É uma experiência muito interessante.
O número Dois é uma espécie de movimento, da direita para a esquerda, como um movimento de arrastamento.
O número Cinco é como o barulho de um trovão ou o som duma onda contra um rochedo.
O Seis é muito pequeno. Na verdade é o número que tenho mais dificuldade para sentir em qualqer espécie de forma visual significativa. Portanto é frequentemente a ausência do que quer que seja. É como um buraco ou um vazio ou um buraco negro.
O número Nove é o maior. É muito alto. Pode ser intimidante."
Daniel Paul Tammet in Odisseia
2 comentários:
há um vasto catalogo de olhos para com os quais se ver o mundo.
e há outros tantos catálogos de ver o mundo sem os olhos
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