domingo, 6 de dezembro de 2009

"(...) Amavam toda a gente, segundo o informador. Fiquei satisfeito, cuidando que o amarem elas toda a gente era boa probabilidade para eu ser amado. Eu não queria mais nada.
Languiram em doce ternura os meus olhos, fitos na mais amável das quatro. Algumas vezes encontraram-se as nossas vistas e disseram profundos mistérios da alma. Fugi outras vezes da sala e fui a uma varanda, de onde se ouvia o bramido do oceano, casar as melodias do meu amor com as dissonâncias formidolosas do estrugir das ondas. A lua prateava-me a testa, em que o sangue, aquecido no coração, subia em arquejos daquela poesia, que não sai em rimas, e enlouquece se a paixão a não desafoga em suspiros. Aquilo é que era!
Eu queria comunicar a exuberância da minha ventura, mas tive sempre para mim que a felicidade quer-se recatada para não suscitar invejas: é ela como a fina essência das flores destiladas, que perde o aorma, destapado o cristal que a encerra.(...)
in "Coração, cabeça e estômago" de Camilo Castelo Branco

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