segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Livro Mantras Palavras Sagradas de Poder

(…) há muita gente que pensa que, para ser eficaz, o mantra depende das vibrações que desperta e, portanto, de uma enunciação correcta, Se assim fosse, na verdade, os mantras sânscritos pronunciados por chineses, tibetanos ou japoneses dificilmente poderiam ser eficazes, pois os sons que emitem quase não são reconhecidos em sânscrito. Assim, SVAHA em sânscrito torna-se SOHA em chinês e tibetano, SAWAKA em japonês. De igual modo, AUM se torna em OM, UM e até em UNG, ONG ou ANG em várias línguas e dialectos e, no entanto, permanece maravilhosamente eficaz quando as condições mentais que governam o uso das sílabas mântricas são observadas com correcção. Segue-se daí que é preciso aceitar a afirmativa do Lama Govinda, de que o verdadeiro poder do mantra reside menos no som do que na mente de quem o emprega. Isto é, sem dúvida, verdade total quanto aos mantras usados no decurso da contemplação iogue, ainda que não seja verdade quanto aos mantras usados para certos propósitos diferentes. (…)
“Em geral as pessoas, Ah Jon, usam os mantras como magia para ter sorte ou afastar doenças ou outros males. Talvez tenham razão ao agir assim, pois os mantras dão frequentemente resultado, mas peço-lhe para não acreditar nisso. Suplico-lhe que acredite que eles são da maior ajuda na alteração dos estados de consciência. O que eles fazem é serenar a sua mente para que ela não corra atrás dos pensamentos.”
Ele continuou explicando que, sendo vazios de sentido, os mantras não promovem pensamentos conceptuais, como as orações, as invocações e coisas semelhantes estão aptas a fazer; e que, como cada mantra possui uma misteriosa correspondência (ele não conseguiu explicar que espécie de correspondência) com as várias potencialidades profundamente embutidas na nossa consciência (talvez quisesse referir-se ao subconsciente), ele poderia fazer-nos saltar para um estado que, de outra forma, seria difícil de alcançar. Não me lembro das suas palavras textualmente, mas sei que ele foi o primeiro a exprimir uma ideia que, mais tarde, foi amplamente confirmada pela minha própria experiência. É por isso que recordo a ocasião de maneira tão vivida. Sentado comigo no andar superior de um autocarro que se dirigia para o centro de Hong Kong, ele continuou explicando que era inútil aplicar palavras com significado em qualquer cerimónia religiosa, pois as palavras incitam o pensamento dualístico, que impede a mente de entrar num estado verdadeiramente espiritual. Suas últimas palavras, pronunciadas em voz bastante alta – quando eu me preparava para saltar – foram: “As pessoas que rezam com palavras não passam de principiantes. Não faça isso”. Alguns passageiros que entendiam inglês olharam para ele como se considerassem um tanto louco, e eu mesmo fiquei pasmo com a sua veemência tão pouco chinesa, mas agora sei que a sua mente era bem sadia.
O domínio que o Quinto Tio possuía do idioma inglês, apesar de muito adequado para quase todos os propósitos, era insuficiente para que eu tivesse a certeza de como ele considerava os mantras, mas hoje penso que ele também acreditava que o som das sílabas mântricas criava movimentos correspondentes nas profundezas da consciência de quem o usava. Essa ênfase sobre o som foi especialmente perturbadora no seu gracejo com a palavra “Hongcanjapchinsanskese”. Penso que ele talvez se referisse a uma espécie de Om, em vez dos sons determinados que os indivíduos emitem.

(...)“As palavras que têm significado só para o uso comum – não têm poder e atrapalham o caminho, como rochedos que viram o barco. As palavras com muito poder não demonstram o seu significado real – é melhor esquecer o seu significado e manter a mente livre.
(…) Agora tenho a certeza de que ele tinha razão, pois os mantras pronunciados com profunda sinceridade libertam poderes mentais criativos, dos quais naturalmente não temos consciência.”
Jonh Blofeld

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