quinta-feira, 5 de novembro de 2009


"Na realidade, a menos que que esteja num estado de abertura-nas-dez-direcções, é que não perderemos tudo aquilo em que nos envolvemos.(...)
Quando não olhamos especificamente para nada, quando não nos apegamos a nada, tudo é reflectido no espelho vazio dentro da nossa profundidade e abraçamos de novo toda a realidade do mundo sem os nossos preconceitos e imagens habituais.(...)
Por isso não devemos ficar cegos, nem pelo nosso estado de apego numa direcção (tão semelhante a focar uma lente) nem sequer por este zazen!"
in "Folhas caem, novo rebento" de Hôgen Yamahata

3 comentários:

Vítor disse...

Não existem estados de se lidar com o mundo sem que hajam preconceitos, senão a pessoa não saberia nem falar, ou colocar sua roupa ou fazer qualquer ação específica. Sempre surgem explicações assim nos ensinamentos e sempre eu digo que elas são furadas, imaginárias, não correspondem à realidade. Só existem estados sem preconceito durante alguns tipos de samadhi em que a pessoa dissolve seu corpo e suas noções de objeto. Mas mesmo estes estados são passageiros.

Vítor disse...

Podemos comparar preconceitos à natureza, com suas inumeras manifestações, incluindo outras dimensões de existência. Por mais que falem que elas não existem e que algum ser pode se mover por elas sem preconceito, isso seria mentira, pois dessa forma ele não se moveria e muito menos existiria. Não é que a natureza não existe, apenas que as coisas são impermanentes e assim são com nossos conceitos e hábitos kármicos: eles existem, mas são mutáveis e passageiros. E isso é tudo que podemos fazer quanto a eles, saber que passam mas que tem seu papel. Dizer que a pessoa vai ficar eternamente num estado sem conceitos é dizer que o céu teria que ficar eternamente sem nuvens... a pessoa morreria causticada pelo sol.

a.mar disse...

O nosso cérebro funciona assim: qualquer elemento novo é colocado numa pasta de arquivo. E depois todos os elementos emelhantes são comparados com esse primeiro. Se fôr suficientemente semelhante, ele vai para esse mesmo arquivo. Algumas diferenças que saltem do padrão até chegam aser apagadas.
Daí que com a idade nos seja mais fácil encontrar rostos familiares, a atenção ao pormenor diminui.
Então, com o preconceito de que já conheço eu não olho abertamente para uma coisa que já vi vezes sem conta. Mas eu sei que cada vez que olho, vejo um outro pormenor se der tempo ao meu olhar.
Dá para ver que cada ser é um Universo infinito também pelas caracteristicas mutáveis dos seres.
E quanto a mim são todos vivos, desde as plantas às montanhas.