segunda-feira, 11 de janeiro de 2010


Estou aqui envolvida em mil uma coisas

Mas mil coisas sinto aqui dentro

Guardadas no meu interior

À espera do dia

a. mar

22-11-1999



Eu queria ser magra
Os dedos finos compridos
Os braços finos mais compridos
As pernas muito finas ainda mais compridas
O meu corpo com mais linhas
Verticais
Rectas
Duras
Geometrias de cristais
Brilhantes, brancas
Do pouco alimento
Do muito andar
De tanto andar
Magra de tanto andar

a.mar

05-01-2000

19-07-2001

a força da água é tão bruta. É tão bruta que nos afecta a todos, que ninguém se lembra duma coisa assim. Também, nós nunca estivemos tão fragilizados pelas nossas condições de vida:
- tão independentes que nós somos...!
à primeira, o mundo desaba. E não é o mundo que desaba, somos nós. 10-09-2002

vento
a voar
o vento que me leve
tão leve que eu sou para me levar
posso pedir mil vezes para o vento me levar
leva-me, leva-me, imploro, leva-me, imploro, leva-me
leve leve leve leve leve o vento ou leve-me eu para qualquer lugar longe deste aqui
eu acompanho-te vento, uma leve força me leva porque eu sou leve e não ofereço resistência
a.mar 04-02-2003

asas brancas
voo planado
paz
branca
brilhante
calor
paz
águas límpidas
paz
céu azul

planar

pelo ar
planalto
ar do alto do ar plano
em voo
em paz
campos verdes
alimento
paz
nuvens
chuva
paz
água
mar
a.mar 12-01-2004

Moro nesta rua, onde chego, agora, no meio do silêncio da noite ainda no princípio,
ouço os meus passos por sentir o chão nos meus pés e não pelo som que eles fariam de encontro ao chão com o meu peso, a sola é de borracha,
as minhas calças de bombazina, essas sim, bombeiam decibéis estridentes que entram pelos ouvidos e misturam-se no ritmo cardíaco e respiratório que é acelerado, o caminho para a minha rua é a subir.
Está tudo em silêncio.
Em vez de som, o ar está cheio de cheiro das madeiras que estão a queimar nas lareiras e sugere o calor do interior das casas.
Estava tudo em silêncio, aqui fora, na minha rua, até eu mexer no meu porta-chaves, enfiar a chave na porta e ouvir os dentes a passar na fechadura e a fechadura a rodar e o trinco a ceder e a porta a abrir.
Venho de ver um espectáculo de dança contemporânea, “Memórias de um sábado com rumores de azul” da Companhia de Dança de Paulo Ribeiro. É muito bom perceber que eles, ao deslocarem-se para trabalhar em Viseu, no meio do nada, compreenderam que têm de se aproximar do público, numa atitude pedagógica, abriram o espaço deles, o palco, e acenderam as luzes da plateia e fizeram uma sala de estar com pessoas.
Comunicação, chama-se comunicação, a mensagem entendida, entre emissor receptor.
Vieram mostrar o resultado de relações humanas.
Relações humanas. Tão violentas que o meu corpo dói, não sei se é só o corpo porque ele acaba por me dar indícios que o corpo reage a uma acumulação de revoltas encerradas, emoções contidas que atrofiam o corpo que explode por não poder conter mais. E que ali em cima do palco, incitado por outros corpos, movidos por uma energia mútua.
Porque é que têm de ser tão violentas, trágicas, as relações humanas…
Eu estou só no meu caminho da minha rua até abrir a porta com a chave e entrar para o meio dos meus objectos cheios de memórias de ruídos, murmúrios, presenças e ausências. Só.
Às vezes não sei se tenho capacidade para aguentar tanta violência, fico tão machucada…
Porque aquilo são desenhos vivos que ocorrem ali à nossa frente, são representações, mas reportam-me para aquelas presentações vivas de desenhos violentos que ocorrem fora do alcance dos meus olhos, que em alguém deixam marcado o traço, a cicatriz do gesto.
Vou apagar a luz.
Deitar-me nos meus lençóis brancos com os bonequinhos sorridentes e meninas estrelinhas voadoras bordadas.
Fechar os olhos desejando dormir e sonhar com outra dimensão.
Descansar deste dia.
a.mar 08-12-2005

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